A região de Champagne, no nordeste da França, é mundialmente conhecida pela produção do icônico vinho espumante que leva seu nome.

No entanto, nos últimos anos, algumas das mais renomadas maisons de champagne vêm se destacando não apenas por seus vinhos de excelência, mas também por seu compromisso com a arte contemporânea.

Dentre essas, a Cave Pommery e a Maison Ruinart são exemplos marcantes de como a arte e o champagne podem se entrelaçar, criando experiências imersivas para seus visitantes.

A Conexão Entre Champagne e Arte Contemporânea

A relação entre champagne e arte não é algo novo. Desde o século XVIII, rótulos de garrafas foram desenhados por artistas renomados, e muitas maisons se dedicaram a patrocinar eventos culturais.

No entanto, o diálogo entre champagne e arte contemporânea ganhou força no final do século XX e início do século XXI, quando as grandes maisons passaram a promover exposições e a encomendar obras de arte exclusivas.

Cave Pommery: Galeria Subterrânea

Cave Pommery: Galeria Subterrânea

A Cave Pommery, localizada em Reims, é um dos melhores exemplos dessa fusão entre champagne e arte contemporânea. A maison, fundada em 1858 por Alexandre Louis Pommery e sua esposa Louise Pommery, tornou-se conhecida não apenas por sua inovação na produção de champagnes brut, mas também por seu compromisso com a cultura.

Desde 2002, a Pommery realiza anualmente a “Experience Pommery“, uma exposição de arte contemporânea que acontece dentro de suas caves subterrâneas.

Essas galerias subterrâneas, escavadas em giz, servem de pano de fundo para obras de artistas do mundo todo. A cada edição, um curador é convidado para selecionar artistas e propor um tema específico, criando um diálogo entre a história do local e a contemporaneidade das obras expostas.

Um exemplo notável foi a edição “Expérience #15”, que reuniu artistas como Daniel Firman e Henrique Oliveira, cujas instalações interagiam com o ambiente subterrâneo de forma impactante.

A atmosfera mística das caves amplifica a experiência sensorial dos visitantes, tornando a exposição uma verdadeira imersão no universo da arte e do champagne.

Pommery realiza anualmente a Experience Pommery

Pommery inaugurou em 21 de janeiro de 2025 sua 18ª exposição de arte contemporânea intitulada “Mélodies en sous-sol”.

Esta mostra anual transforma as históricas crayères gallo-romanas da propriedade em uma galeria subterrânea, oferecendo aos visitantes uma experiência única que combina patrimônio histórico e arte moderna. ​

Com curadoria de Fabrice Bousteau, diretor de redação da revista Beaux Arts, a exposição deste ano apresenta 33 instalações que exploram a relação entre arte e música.

O título “Mélodies en sous-sol” faz referência ao filme homônimo de Henri Verneuil, estrelado por Alain Delon e Jean Gabin, sugerindo uma imersão em um universo subterrâneo onde som e arte se entrelaçam.

Dentre as obras expostas, destacam-se:

“Mimetica” (2018) de Elisabetta Benassi: uma instalação que dialoga com o ambiente das caves, refletindo sobre memória e identidade.​

“Ivresse” (2024) de Pablo Reinoso: uma escultura monumental que questiona o infinito, confrontando-se com as dimensões das crayères.​

“Sidereal” de Angelica Mesiti: uma videoperformance que representa dois corpos em estado de gravidade zero dançando, explorando a relação entre movimento e espaço.​

“#papillons dans le ventre” de @Encoreunestp: uma instalação que conduz os visitantes através de cortinas de borboletas, criando uma experiência sensorial única.

“Spring” de Nam Tchun-Mo: uma obra monumental suspensa em uma das caves, desenvolvendo a monocromia e interagindo com a arquitetura do espaço.

Ruinart: A Mais Antiga Maison de Champagne e Seu Diálogo com a Arte

Situada no alto da cidade de Reims, essa imensa propriedade foi adquirida pela família Ruinart no século XIX para a construção das instalações necessárias ao desenvolvimento de seu comércio de champanhe.

O local possui uma característica singular: galerias escavadas diretamente na rocha calcária percorrem a propriedade em três níveis, formando caves naturalmente refrigeradas, ideais para armazenar as cuvées protegidas da luz.

​Em outubro de 2024, a Maison Ruinart, a mais antiga casa de champanhe do mundo, inaugurou um jardim de arte contemporânea em sua histórica propriedade em Reims, França.

O projeto, que levou três anos para ser concluído, abrange uma área de 7.000 m², dos quais 5.000 m² são de bosques, e foi concebido pelo paisagista Christophe Gautrand. O jardim destaca-se por sua diversidade botânica, incorporando espécies como faias, carvalhos, bordos e pinheiros, formando um ecossistema interdependente que se adapta às mudanças climáticas.

Integrado harmoniosamente ao ambiente natural, o jardim abriga 110 obras de arte contemporânea de 36 artistas internacionais.

Entre as peças em destaque esta “Desnatureza” do artista brasileiro Henrique Oliveira, um dos seis artistas convidados pela Maison Ruinart para criar peças exclusivas.

Com um vasto parque arborizado, os espaços externos da propriedade foram pensados como uma experiência artística completa. Ao integrar artistas que incorporam questões ecológicas e ambientais em seus trabalhos, a Ruinart busca criar conexões entre natureza e cultura, arquitetura e vida.

c desenvolveu uma escultura impressionante, cuja forma remete, à primeira vista, a um gigantesco tronco de videira.

Seus galhos entrelaçados formam um labirinto de raízes, evocando a complexa rede subterrânea das caves de calcário.

“Fiquei muito inspirado pelo processo de produção do champanhe”, revela o artista. “Minha escultura se assemelha a uma videira de estrutura invertida: suas raízes não se transformam em galhos finos, mas sim se entrelaçam umas nas outras. É uma metáfora do ciclo da vinificação, que se renova a cada ano.”

Henrique Oliveira

Para essa criação, o artista brasileiro utilizou uma estrutura metálica e papel machê, além de seu material característico: tapumes – compensado reaproveitado.

Esse material, muito comum nas cidades brasileiras, especialmente em São Paulo, é utilizado em cercas de canteiros de obras e está associado às construções precárias das favelas. Sua escolha reflete não apenas a estética urbana brasileira, mas também a necessidade de um uso mais consciente dos recursos naturais.

“O que primeiro me atraiu nesse material foi sua qualidade pictórica”, relembra Henrique Oliveira. “Percebi um paralelo entre as camadas do compensado, que se desintegram com o tempo e revelam sua estrutura, e as camadas que se formam na pintura ao passar do pincel. Esse material carrega texturas porosas, marcas de ferramentas e as cicatrizes deixadas pelo tempo.”

Henrique Oliveira

Comprometido com as questões de sustentabilidade, o artista cria obras que evocam uma natureza poderosa e livre da intervenção humana.

“Essa conversa é uma forma mais contemplativa de olhar para a natureza”, explica Oliveira. “Talvez o mundo natural não nos responda diretamente, mas essa abordagem nos convida a enxergá-lo de uma maneira diferente.”O Impacto do Encontro Entre Champagne e Arte

Henrique Oliveira

O investimento das maisons de champagne na arte contemporânea tem um impacto significativo não apenas para a marca, mas também para a própria valorização da arte.

Ao criar experiências únicas para os visitantes, essas maisons reforçam sua identidade e atraem um público cada vez mais interessado em cultura.

Além disso, essa interação entre arte e champagne reflete a necessidade de constante reinvenção.

A tradição é essencial para a reputação dessas casas, mas a inovação é o que as mantém relevantes em um mercado altamente competitivo.

A intersecção entre champagne e arte contemporânea é um exemplo fascinante de como o luxo pode dialogar com a cultura de forma inovadora.

A Cave Pommery e a Maison Ruinart demonstram que o champagne é incontestavelmente uma bebida de celebração, mas também um vetor de expressão artística.

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